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Mulheres do fim do mundo

Por Pedro Henrique, poeta e escritor. Bacharel em Direito (UERN), Especialista em Direito Digital (Faculdade Verbo), mestrando em Estudos Urbanos e Regionais (UFRN) e Editor Colaborador do Observatório da Várzea.

A obra “Vizinhas: pequenos contos de rosas e outros espinhos”, da escritora assuense Itamara Almeida, foi a vencedora da 17ª edição do Troféu Cultura, na categoria Literatura. O evento aconteceu no último dia 05/12, no Teatro Riachuelo, na capital potiguar. Além da literatura, outros segmentos culturais foram premiados, a saber: artes visuais, audiovisual, produtor/produtora, destaque musical, melhor show, melhor espetáculo cênico, melhor atuação cênica e artista do ano.

Itamara é mulher negra “feita de carne e osso, mas com punhos de aço”, e que tem em sua arte e suas [escre]vivências, para citar Conceição Evaristo, as rosas e os espinhos dos rincões do Assú, onde o Estado não chega, a não ser para nos violar. A potência e ancestralidade da mulher negra foi bem representada nesse troféu, também pela justa homenagem feita à atriz mossoroense Tony Silva. Sim, mulheres do fim do mundo, do clã de Elza Soares e muitas outras.

Deixo em destaque as minhas impressões sobre a obra premiada, publicada originalmente no meu instagram pessoal em 08 de janeiro de 2022:

Acabo de sair desse jardim cheio de rosas e espinhos extremamente tocado. Minha sensação inicial foi de levar imediatamente o livro para minha mãe lê-lo, especialmente o conto sobre “Açucena”. O silêncio, o esquecimento de si, o medo, a raiva da impotência e da mudança, são as emoções que me foram lembradas nesse conto, das tantas vezes que vi minha mãe-mulher enfrentá-las. E ainda enfrenta. Minha conterrânea, Itamara, fala dessas tão comuns histórias tristes de “mulheres vassouras, mulheres comidas, mulheres roupas lavadas, mulheres cama, mulheres sofás, mulheres decoração, mulheres enfeites, mulheres secretárias”. Suas palavras em prosa, da vida cotidiana, de seu cortiço, se derramam por entre nossos olhos, nosso peito, nossas mãos impotentes perante a indignidade e a injustiça social que vivem as mulheres e os ninguéns, como diria Eduardo Galeano. E são cortantes. Mas, não mais do que a bala que nos perfura e mata, “a bichinha tem culpa não!”, diz ela, já que coletivamente apertamos os gatilhos.
Em “Cravo Roxo”, vizinha de nº 7, quem surge nas páginas é a mulher de cabeça baixa, encurvada, que balbucia, geme, pois já não consegue falar a língua dos homens. Está mais do que certa, a eles não interessa ouvi-la! Sua face, quando erguida, é a do desespero. Quantas mulheres não querem sair correndo por aí revirando seu corpo, desamarrando duas dores, dançando com seu tormento? Mesmo assim, embora aceitem a morte, o único prazer que as obrigam merecer, como “Amarílis” elas cortam o frango do almoço do dia seguinte, num gesto de cuidado, talvez para despistar a morte, ou ainda agradá-la. Morreu como uma boa mulher, uma boa dona de casa, almoço feito, sem dar trabalho a ninguém.
Mas, sem dúvidas, de quem mais me aproximei foi de “Jacinto”, mulher de 20 poucos anos. Me tocou a sua abstinência, mesmo dos pequenos prazeres. O direito de viver o próprio gozo, a juventude, os supostos perigos, para alguns é motivo de renúncia. Lembrei-me das vezes em que quis beijar um homem, brincar de bonecas, brincar de sexo como as outras crianças, andar de mãos dadas, falar gesticulando, amolecer os quadris e as juntas, sentar de pernas cruzadas, usar batom, serpentear na areia, ficar em silêncio, chorar em paz. Só nos resta envelhecer, enrijecer. Aos poucos nos roubam de nós mesmos. Eu te entendo, Jacinto.

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Comentários (9)
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Invitado
21 ago

Sedução de dinheiro e poder que nem mesmo Falsielle resistiu. Assim que o marido perdeu o emprego fantasma de George e Gustavo não cedeu as pressões dela, pulou fora. O que explica ela de volta ao prato que cuspiu, se abraçando com bolsonaristas de carteirinha? Aliás, o que fez na prática Falsielle em defesa da mulher de Assu? A Delegacia da Mulher foi obra conjunta de Gustavo e Fátima, essa não vale citar.

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Invitado
30 jul
Obtuvo 3 de 5 estrellas.

Como toda área da indústria no RN ,não há fiscalização.

2

Invitado
07 jun

Depois d 10 anos por quê? ah, porque Ivan Jr. tinha acabado. Até com o título de São João mais antigo do mundo ele tinha acabado.

1

Invitado
06 jun

Derretimento tá sofrendo seu prefeito, com essa gestão desastrosa.

0

Invitado
19 may

Que coisa, não? Rsrsr

1

Invitado
04 may

Arrasou 👏🏼

1

Invitado
04 may
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

Amei incrível demais!!

1

Invitado
04 may
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

Arrasou!!!

0

Invitado
10 mar
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

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